O Papa Francisco advertiu os bispos poloneses que uma cultura cada vez mais secularizada e descristianizada está levando as pessoas ao estado de órfãs, sendo vagamente espirituais sem Cristo ou sua igreja.

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A reportagem é de Junno Arocho Esteves, publicada por Catholic News Service, 02-08-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Falando na catedral de Cracóvia no dia 27 de julho para a Conferência Episcopal irlandesa, organismo composto por 117 bispos, o papa também falou que, por trás da exploração das pessoas e da criação, está em atividade a “colonização ideológica”, o que se vê, por exemplo, na promoção da “teoria de gênero”, cujo objetivo é “aniquilar a espécie humana como a imagem de Deus”.
Seis dias depois de o papa se reunir em privado com os bispos do país, o Vaticano divulgou a transcrição da porção de perguntas e respostas do encontro, que durou 90 minutos. O encontro altamente aguardado veio num momento de desentendimentos dentro da Igreja polonesa quanto a certos aspectos do magistério de Francisco, incluindo os seus apelos por abrigar refugiados.
Francisco respondeu a perguntas feitas por quatro bispos, a primeiro sendo de Dom Marek Jedraszewski, da Arquidiocese de Lodz, que perguntou ao papa qual a ação pastoral que a Igreja polonesa pode tomar para defender os católicos do país de uma “cultura contemporânea ateia-liberal” cada vez maior.
O pontífice concordou com a avaliação do arcebispo quanto à cultura atual e disse que, mesmo onde há sinais de sede espiritual, ela geralmente faz parte de uma “espiritualidade subjetiva sem Cristo”. A resposta da Igreja, falou o papa, deve ser a de estar aí fora, entre o povo, próxima às pessoas e disposta a “perder tempo” com elas.
Ele lembrou uma pessoa que se encontrava hesitante em ir ao confessionário porque estava numa situação em que poderia não receber a absolvição. O pároco, por sua vez, ouviu sua história, abençoou-a e a fez prometer voltar.
Muito embora não pudesse oferecer a absolvição, “o padre ‘perdeu tempo’ a fim de atrair este homem na direção aos sacramentos. Isso se chama proximidade”, disse o papa.
Os bispos, continuou ele, devem também estar próximos de seus padres e imediatamente disponíveis a eles de forma que estes possam “se sentir que possuem um pai”.
O Papa Francisco igualmente salientou que os bispos devem exercitar a paciência no trabalho junto aos jovens que se encontram “aborrecidos”. Ele citou o exemplo de São João Paulo II, quem daria aulas a estudantes universitários e, depois, sairia com eles a passeio.
“Ele daria aulas aos jovens, e depois sairia com eles para as montanhas. [Isso é] proximidade. Ele os escutava, ele ficava com os jovens”, declarou o papa.
Ao responder a uma pergunta levantada pelo bispo auxiliar Leszek Leszkiewicz, da Diocese de Tarnow, sobre se as paróquias ainda são a melhor forma de estender a mão às pessoas e sobre como edificar o zelo missionário, o pontífice ressaltou que a paróquia “é a casa do povo de Deus” e deve ter suas portas bem abertas para recebê-las.
“Existem paróquias com secretarias paroquiais que parecem ‘discípulas de Satanás’, ambientes que assustam as pessoas; são paróquias com portas fechadas”, disse.
Em vez disso, os membros da paróquia devem assumir o manto dos “discípulos missionários” e estender a mão aos que estão longe. “Penso nas pessoas em meu país de origem: se a gente não vai em busca delas, se não tentamos estar próximos delas, elas não vão vir”, completou.
O bispo auxiliar Krzysztof Zadarko, da Diocese de Koszalin-Kolobrzeg, perguntou ao papa não só sobre como ajudar o grande número de refugiados que têm entrado na Europa, mas também sobre como superar “o temor de uma possível invasão ou agressão que tem paralisado a sociedade”.
Francisco respondeu que cada país é diferente e que uma resposta universal não pode ser dada porque “depende da situação de cada país e cultura”. No entanto, o que deve permanecer absoluto é a necessidade de “ter um coração aberto pronto para receber” os que escapam à violência e perseguição. “Isso é absoluto!”.
O papa destacou a necessidade de colocar a questão dos refugiados em seu “contexto” próprio, acrescentando que a difusão de ideologias tem contribuído para as guerras e a exploração que fazem as pessoas fugirem, bem como tem contribuído para a confusão que muitos sentem ao tentar resolver o problema.
“É um problema mundial: a exploração da criação e a exploração das pessoas. Nós vivemos uma época em que a humanidade como a imagem de Deus está sendo aniquilada”, disse ele.
O Papa Francisco relatou aos bispos um diálogo que teve com o Papa Emérito Bento XVI, que lhe disse: “Sua Santidade, nós estamos vivendo uma era de pecado contra Deus, o Criador”.
Entre estes pecados, continuou o papa, está a colonização ideológica e, em particular, a da teoria de gênero, que sustenta que as características de macho e fêmea não são biologicamente determinadas, e sim constructos maleáveis e sociais.
“Hoje, ensina-se às crianças na escolha isto: que cada um pode escolher o seu próprio sexo. E por que eles ensinam isso? Porque os livros vêm daquelas pessoas e instituições que dão dinheiro”, disse.
“Deus criou homem e mulher; Deus criou o mundo assim e nós estamos fazendo exatamente o contrário”, concluiu o papa.