Com a indicação à vice-presidência, Rosario Murillo se perfila como principal candidata à sucessão de Ortega. A concentração do poder em torno de uma família na Nicarágua remete à era da ditadura da família Somoza, que governou o país entre 1936 e 1979, ano em que foi deposta pela revolução sandinista. Ortega foi um dos líderes do movimento revolucionário.

Partido único
Ortega está consolidando seu poder a partir de um cerco à oposição. Eduardo Montealegre, que ficou em segundo lugar nas eleições presidenciais de 2011, foi retirado da liderança do Partido Liberal Independente – PLI pela Suprema Corte do país em 08-06-2016.
A decisão impede que ele se candidate às eleições deste ano. O tribunal apontou para o seu lugar Raúl Reyes, ligado ao governo. Foi graças a uma manobra desse político que os deputados oposicionistas perderam os mandatos.
Assim, a oposição não tem representação parlamentar e tampouco pode apresentar um candidato nas eleições de novembro. Os acontecimentos da última semana tornam a Nicarágua efetivamente um país de partido único, a Frente Sandinista de Libertação Nacional – FSLN de Ortega.
A expectativa é que, sem oposição, Ortega vença as eleições de novembro com facilidade. Para o Movimento Renovador Sandinista, uma dissidência do FSLN, as eleições de novembro serão uma “farsa eleitoral” e uma “fraude”. Setores contrários ao governo de Ortega denunciam que ele exerce controle sobre a Justiça Eleitoral, a Suprema Corte e, agora, o Legislativo.

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Família Ortega no poder
Ortega já soma 20 anos no poder na Nicarágua, em décadas distintas. Ele liderou o país entre 1979, ano da revolução sandinista, e 1990, quando a FSLN perdeu as eleições presidenciais. Ele voltou ao governo em 2007, após vencer as eleições.
A Constituição impedia que ele se candidatasse à reeleição, mas essas restrições acabaram sendo derrubadas. Em 2008, houve acusações de fraude da FSLN em votações municipais. Em 2011, na reeleição de Ortega, observadores da União Europeia denunciaram irregularidades, como a falta de dependência da comissão eleitoral. Nas eleições de novembro deste ano, Ortega não permitirá observadores internacionais.
Presidente há quase 10 anos, Ortega consolidou o poder em volta de si e de sua família. A primeira-dama Rosario Murillo já exerce sua força política no país, ainda que formalmente não tenha posição para tal. Além disso, filhos de Ortega têm cargos no governo.