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Durante a sua visita a Uganda, o Papa Francisco foi na manhã de hoje (28 de nov.) ao santuário dos mártires anglicanos, religiosos assassinados que, mais tarde, ele descreveria como testemunhos de um “ecumenismo de sangue”.
A reportagem é de Christopher Lamb, publicada por The Tablet, 28-11-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Um total de 23 anglicanos e 22 católicos foram mortos sob as ordens do rei Mwanga II no final do século XIX. Eles faziam parte dos primeiros cristãos enviados do país. Católicos e anglicanos iam como missionários para a região como forma de divulgar a fé cristã.
O Papa Francisco fez uma breve visita ao santuário anglicano em Namugongo, local de martírio de 25 dos que morreram.
Em seguida, foi ao santuário católico nacional, localizado nas proximidades, para rezar uma missa. Aí ele foi recebido por uma multidão de fiéis que cantavam e dançavam com entusiasmo.
Durante a homilia, o papa falou sobre os dois grupos de mártires: “Todas estas testemunhas cultivaram o dom do Espírito Santo na sua vida e, livremente, deram testemunho da sua fé em Jesus Cristo, mesmo a preço da vida, e vários deles numa idade muito jovem”.
A frase “ecumenismo de sangue” já havia sido usada pelo papa quando descreveu os cristãos de diferentes denominações mortos por causa da fé no Oriente Médio.
Muitos dos mártires católicos eram jovens pajens do rei Mwanga e foram mortos por se recusarem a aceitar as suas investidas homossexuais.
Durante uma breve coletiva de imprensa na sexta-feira à noite, o bispo da Diocese de Lira, Dom Giuseppe Franzelli, missionário comboniano, disse que a questão da homossexualidade “ainda é um problema” em Uganda.
O país passou a ser criticado pela comunidade internacional após a apresentação de um projeto de lei que proponha punir com a morte quem tivesse relações homossexuais – no fim, a legislação foi aprovada com a pena de morte sendo substituída pela prisão perpétua como a pena máxima.
Os mártires são símbolos da identidade nacional em Uganda e em outubro passado marcaram-se os 50 anos desde que foram canonizados pelo Papa Paulo VI.
Na homilia, o papa disse que estes mártires demonstram que “os prazeres mundanos e o poder terreno não dão alegria e paz duradouras”.
Pelo contrário, “são a fidelidade a Deus, a honestidade e integridade da vida e uma autêntica preocupação pelo bem dos outros que nos trazem aquela paz que o mundo não pode oferecer”.
“Mas [honramos estes mártires] verdadeiramente, como honramos todos os Santos, quando levamos o seu testemunho de Cristo para os nossos lares e a nossa vizinhança, para os locais de trabalho e a sociedade civil”, acrescentou Francisco.
Esta noção de que a fé consolida a identidade nacional condiz com um tema recorrente neste papado.
Durante a sua visita a Cuba, por exemplo, Francisco afirmou que a Nossa Senhora da Caridade do El Cobre ajudou a nutrir a identidade do país.