Entre as novidades mais significativas introduzidas pela nova constituição apostólica Vultum Dei quaerere, está o parágrafo dedicado ao “recrutamento” apressado de candidatas do exterior. Um fenômeno bem conhecido, que viu, nos últimos anos, muitas jovens nascidas principalmente em países pobres serem convidadas a aderir à vida religiosa, nem sempre através de um adequado caminho vocacional, a fim de garantir uma troca de forças.

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“Os mosteiros prestarão uma atenção especial ao discernimento espiritual e vocacional – escreve Francisco na nova Constituição –, assegurarão às candidatas um acompanhamento personalizado e promoverão itinerários formativos adequados, tendo sempre em mente que, à formação inicial, deve ser reservado um amplo espaço de tempo”.
Papa Bergoglio logo especifica: “Apesar da constituição de comunidades internacionais e multiculturais manifestar a universalidade do carisma, deve-se absolutamente evitar o recrutamento de candidatas de outros países com o único fim de salvaguardar a sobrevivência do mosteiro. Sejam elaborados critérios para assegurar o cumprimento disso”.
Nunca deverá ser um problema a origem geográfica de uma noviça, nem a existência de comunidades internacionais e multiculturais. Mas o rigoroso percurso vocacional, explica Francisco, não pode se tornar opcional e não se devem indultar atalhos.
Dialogando a portas fechadas em dezembro de 2013 com os superiores religiosos, Francisco tinha recordado como mudou a geografia da vida consagrada e que “todas as culturas têm a capacidade de serem chamadas pelo Senhor, que é livre para suscitar mais vocações de um lado ou de outro. O que o Senhor quer com as vocações que Ele nos manda das Igrejas mais jovens? Eu não sei dizer. Mas eu me faço a pergunta. Devemos fazê-la. Há uma vontade do Senhor em tudo isso. Há Igrejas que estão dando frutos novos. Talvez, antigamente, não eram tão fecundas, mas agora são”.
Depois de mencionar a necessidade da “inculturação do carisma”, ou seja, da capacidade do carisma original dos fundadores das ordens de assumir o melhor de cada cultura, o papa explicava: “Eu não estou falando de adaptação folclórica aos costumes: é uma questão de mentalidade, de modo de pensar. Por exemplo: há povos que pensam de maneira mais concreta do que abstrata, ou que, ao menos, têm um tipo de abstração diferente da ocidental… É preciso viver com coragem e defrontar-se com esses desafios, até mesmo sobre temas importantes. Em suma, não posso formar uma pessoa como religiosa sem levar em consideração a sua vida, a sua experiência, a sua mentalidade e o seu contexto cultural”.
Naquela ocasião, Bergoglio tinha se declarado bem consciente também dos riscos, justamente em termos de “recrutamento vocacional” das Igrejas mais jovens. Recordando que, ainda em 1994, no contexto do Sínodo ordinário sobre a vida consagrada e a sua missão, os bispos filipinos denunciaram o “tráfico de noviças”, isto é, a chegada maciça de congregações estrangeiras que abriram casas no arquipélago a fim de recrutar vocações a serem transplantadas para a Europa. “É preciso ficar de olhos abertos sobre essas situações”, dissera o papa.